Bola de Neve: a nova igreja evangélica

Renovação de instituição religiosa está convertendo cada vez mais jovens


por Josemir de Sousa

O último recenseamento populacional do IBGE, realizado em 1996, mediu a população jovem no Brasil e de acordo com a pesquisa, o número de brasileiros com idade entre 15 e 25 anos vem diminuindo gradativamente desde a década de 70, porém, ainda é fato que os mais novos representam uma parcela significativa do contingente populacional do país. Por isso as igrejas evangélicas buscam atrair os fieis cada vez mais cedo. Em uma manhã de domingo na praia de Piatã, orla de Salvador, um grupo de jovens foram reunidos no fim de semana, para o batismo coletivo. Eles de mãos dadas caminhavam juntos em direção ao mar formando um círculo, orando e cantando músicas religiosas. Esse é o ritual de iniciação, que mais tem atraído a atenção da comunidade jovem atualmente no Brasil, a Igreja Bola de Neve conhecida como a igreja dos surfistas.

A instituição surgiu em 1993, em São Paulo, fundada por Rinaldo Pereira conhecido como pastor Rina, voltada para o público jovem. Durante o culto a Bíblia é interpretada em uma linguagem dinâmica, a fim de poder congregar aqueles que não se identificam com o estilo de vida do evangélico tradicional. O curioso nome da instituição faz menção a algo que não para de crescer. Isso é realmente um fato, desde que foi criada a igreja se espalhou pelo Brasil, seus templos estão em mais de 75 cidades e não é só isso, existem templos espalhados por diversos países como Estados Unidos, Índia e Espanha.

Na Bahia, a Bola de Neve está presente desde 2001 e tem como principal líder no estado, o pastor Vilmar Lopes Junior, 41 anos que prefere ser chamado de pastor Junior. A atual sede da Church (palavra em inglês que significa igreja e é como os fiéis chamam o templo) fica localizada no bairro do Rio Vermelho, em Salvador. Quem passa na frente do templo, fica no mínimo intrigado, a fachada da igreja lembra uma academia de ginástica ou uma mesmo uma loja de surfwear, isso devido ao colorido e as imagens de esportes radicais plotadas nas janelas de vidro do local. Dentro do lugar mais uma surpresa, o púlpito é uma prancha de surf suspensa por cabos de aço e sobre ela, a Bíblia. Deste cenário o pastor comandará por mais de duas horas o culto, que está sempre lotado na maioria de adolescentes e jovens adultos, fugindo completamente do estereótipo de crentes nas vestimentas e na atitude.

No culto, os freqüentadores vão bem a vontade usando bermudas, camisetas e bonés. Isso não é exclusivo apenas dos fiéis, inclusive o pastor se veste da mesma maneira. Para o pastor Junior, o que atrai o jovem a freqüentar a Bola de Neve não é a infra-estrutura do local, nem o modo como os fiéis se vestem e sim, a maneira como eles são percebidos. “A igreja tem como principal objetivo permitir que a geração que tem um perfil alternativo (músicos, adeptos de esportes radicais, entre outros) se aproximem dos ensinamentos bíblicos”, afirma. Junior comenta que as igrejas, independente da religião, têm sempre um grupo jovem, porém, na Bola de Neve, isso é o diferencial. “Eu não tenho aqui um grupo de jovens, tenho uma igreja de jovens, cada igreja tem um alvo, em algumas esse alvo são senhores e senhoras, outras são casais e outras o alvo são famílias, aqui o nosso alvo é o jovem”, comenta.

A maneira como a instituição percebe os jovens é o que tem atraído a cada vez mais freqüentadores do templo. Dauton Reis, 30 anos, presbítero da BN em Salvador, afirma que o templo recebe cerca de 200 visitantes por mês e muitos deles acabam ficando, como é o caso de Rafael Matos, 17 anos. Em pleno domingo de carnaval ele conheceu o culto da Bola de Neve. “Enquanto toda minha família ia para Avenida (termo usado para designar o principal percurso de trios do carnaval de Salvador) eu fui para a igreja”, conta ele. O jovem nasceu em uma família católica não-praticante e sempre se sentiu atraído pelo ambiente religioso. “Procurei uma igreja por muito tempo, participei de centros espíritas e até outra igreja evangélica com regras rígidas, mais para mim não passava de um monte de baboseira. Aqui, pela primeira
vez, me identifiquei”, afirma.

Histórias como a de Rafael reflete o que a socióloga Solange do Santos Rodrigues chama de “busca pelo sagrado”. De acordo com a cientista, freqüentemente se encontra jovens que em um curto período passaram por diversas experiências religiosas, a fim de encontrar respostas para suas dúvidas e angústias existenciais. Para o pastor Junior, o aumento de jovens procurando as igrejas, sobretudo as evangélicas, se dá pela própria percepção dele que a falta de limites é destrutiva. “Em meio ao mundo turbulento em que vivemos tudo que as pessoas procuram é paz e alegria, que permanecem independentemente das circunstancias ou problemas”, comenta.

O principal atrativo da Bola de Neve é que a igreja permite aos seus fiéis uma liberdade pouco vista nas demais igrejas evangélicas, dando a eles a possibilidade de buscar o que deseja sem se sentir obrigado a nada e que o saber ouvir sem condenar faz a diferença. “Nós trabalhamos com pessoas que chegam com todo o tipo de problema, e isso é uma situação aberta, a igreja não condena ninguém, nós trabalhamos com a tolerância, até o momento em que cada um perceba sua dificuldade e comece sua transformação”, acrescentou o Pastor.

Como na maioria das igrejas evangélicas, o culto na BN começa ao som de músicas de oração. A banda da igreja dá aos louvores uma nova roupagem musical que mistura pop, rock e reggae. Quem passa do lado de fora do templo e ouve aquele som, pode até pensar que se trata de um show, não dá para imaginar que ali jovens estão reunidos para louvar a Deus. O culto segue, o pastor inicia o sermão sempre bastante irreverente, lê trechos da Bíblia, ora, chama a atenção para as principais atividades da igreja, pede a contribuição. Por falar em contribuições, assim como a maioria das instituições religiosas a BN também pede a colaboração dos fiéis, e para quem acha que eles não são tão assíduos como os mais velhos, engana-se.

De acordo com o líder do templo, os jovens da Bola são bastante presente nas contribuições, é essa fidelidade que garante que as contas do templo sejam mantidas em dia. Em suma, a Bola de Neve tem como o objetivo aproximar os jovens da religião. Para isso, conta com uma ferramenta que o jovem conhece bem, as novas tecnologias mais precisamente a internet que há muito tempo caiu no gosto popular. A igreja possui um site que mais parece uma loja de surfwear do que um templo virtual. Na rede de relacionamento, Orkut, é fácil encontrar centenas de comunidades relacionadas à instituição e são nessas que os seguidores da BN postam suas dúvidas e experiências na igreja para que outros interessados tenham a possibilidade de conhecer o trabalho. Mesmo com uma linguagem voltada para um público jovem, é aberto a todos, freqüentam mães, pais e até avós que podem ser vistas no templo.

O Pastor diz que essa é uma das principais funções da religião, fazer com que esses jovens possam cada vem mais estar próximo do ambiente familiar. “Hoje conseguimos trazer também a família toda para igreja, nosso público é o jovem, mas as pessoas de mais idade que estão aqui são pais dos que freqüentam a igreja, e eles são bem vindos aqui”, comenta.

Matéria publicada na REVISTA ACTO - Publicação experimental para o Trabalho de Conclusão do Curso de Jornalismo FIB em Nov. de 2009

Foto: Josemir de Sousa

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